terça-feira, abril 28, 2009

Pedacinhos de mim

Há uma pequena parte de mim que quer ficar. Ela grita um gritinho suave, dentro de mim, pedindo, implorando que eu fique. Essa parte de mim quer rir quando o assunto é sério, e às vezes quer chorar no meio do trânsito. Essa parte de mim não pode ver um gramado, que já quer sair correndo. Ela tem medo de tudo e quase sempre quer fugir para onde não deve. Ela se sente perdida, tem saudades de tanta coisa antiga boa e ruim, tem saudade do amor e do desamor que sentiu e tem sede de coisas que não são de beber. Essa parte de mim um dia já foi o meu todo, o seu todo. Agora é apenas uma pequena parte de mim. É a parte que eu estou deixando de ter aos poucos, que eu estou deixando esvair, que está perdendo espaço para uma coisa maior. Uma coisa que as pessoas costumam chamar de "renovação".

sábado, abril 25, 2009

O tempo que faltou

Não olho para a noite, porque não há cor. Eu não gosto quando falta nada, e falta cor. Gosto de sentir a terra girando. E ela gira bem devagar, só pra me provocar. O relógio continua fazendo o barulho dos ponteiros cansados. Que giram num eixo tão pequeno. Olhem para os relógios: que erro! Esse eixo não vai conseguir segurar um dia todo! Consertem-no! Aumentem os relógios! Deixem os ponteiros girarem por mais tempo, eles precisam de mais segundos! E eu preciso de água. Esqueci de tomar água, de comer, de dormir. Eu esqueci, porque pensava naquele mistério: A sua mão que não segura a minha. Há mãos abanando, há mãos que falam pelas bocas surdas, há mãos que imploram perdão, há mãos que mostram uma idade longa, e há a sua, que não segura a minha. Eu sei que há maiores mistérios, como o arco-íris cheio de cores que se unem, e elas se unem tão bonito... Logo depois da chuva. É tão belo: cores claras, cores escuras. A natureza que as fez amarelas, azuis... Mas a noite não tem cor. E é por isso que eu não olho para a noite, porque ela não quis usar nenhuma cor.

quinta-feira, abril 23, 2009

Silêncio do que não foi dito

Às vezes tudo que devemos fazer é dizer a frase que desejamos e então nos calar. Ir embora depois. Porque o que vem depois dessas frases são coisas sugadas de nós, que ainda não estavam prontas para serem expelidas. E tudo que nos é sugado, assim prematuramente, pode doer nos ouvidos de quem sugou. Não quero dor. Ela costuma bater no vidro e voltar de onde veio.

domingo, abril 19, 2009

Simples assim, mas nem tanto

Um dia já existiu castelos, príncipes, fantasias.
Um dia já houve a possibilidade de viagens espontâneas, histórias mágicas, experiências fantásticas...
Um dia nasceu um pequeno príncipe, as serenatas, as flores.
Um dia ela abriu o olho e acordou.
Quem a cutucou foi sua terapeuta, sua idade, sua vida.
Cutucaram tão forte que ao invés de levantar, ela caiu.
Era um buraco muito mais fundo do que o da Alice no final nada de coelhos e relógios.
Ela caiu na real.
Pegou os pedacinhos minúsculos de esperança espalhados pelo chão e seguiu.
No caminho aprendeu algumas coisas, descobriu o que queria, precisava, e o que não aceitava.
Cativou tudo e a todos se responsabilizando - quase sempre - por seus atos.
Um dia cativou um pequeno pinguim.Porém, ela achava que podia transformá-lo em mundo.
No seu mundo.Queria que ele fosse vento, água, sol e terra.
De pouquinho em pouquinho ela foi moldando-o para ficar perfeito, do jeito que ela queria!
Foi tão difícil perceber que não importava o quanto tentasse, ele era apenas um pinguim.
Um dia passou um trem e o levou embora: "Não se preocupe querida... é o trem da vida"e se foi.
Ela então voltou para a realidade novamente.
Deu o que restava de fantasia para um trombadinha - que levou também seus pertences - e chorou.
Daí para frente começou a olhar ao seu redor.
Percebeu como os relacionamentos de hoje são superficiais,como o dinheiro manda em absolutamente tudo,como "um falso sorriso vale mais do que uma amizade"e todo "amor verdadeiro" é o conjunto: carro-roupas-viagens-tempero-vinho-restaurantes-festas-coisase por isso ninguém mais sabe o que sente.
Construiu seu murinho, não muito alto para que não pudesse ver do outro lado, poliu seus diamantes internose deu alguns tropeços em pedriscos no caminho.
Mas não pense que ela entrou nesta concha e não encara a vida.
Foi de tanto encarar que tremeu.
Só soube então se realizar em palavras; seus desejos, medos, saudades.
Ponto final ela não põe em nada.
Não tem a conclusão e deixa quem quizer partir no trem da vida apenas ir...ela só precisa se achar.
Por enquanto só quer aprender a ver a lua sozinha
Para um dia vê-la junto das estrelas.

sábado, abril 18, 2009

De volta a estrada

Eu estou sempre por aqui, quando você precisar.

Sempre por perto, mas percebo-me longe de mim mesmo.

E agora?

Qual é o caminho de volta?

Me perdi nessa estrada que me afasta de mim mesmo.E agora não consigo mais encontrar o caminho...

Perder-se e encontrar-se novamente

Pode ser um caminho sem volta

... às vezes.

sábado, abril 11, 2009

In-decisão

Meu estomago dói, ele sente o peso de uma decisão
Se contorce
Se ajeita
Reclama,
Aperta
Dificultando ainda mais minha concentração, numa tentativa de boicote
Pode gritar, pode fingir estar com fome, pode fingir queimadas amazônicas,
Eu agüento você.
E se eu vencer
Você me agüenta, e sossega, por favor.

quinta-feira, abril 09, 2009

Alma minha

Li em um dos poemas libertinários de Manuel Bandeira, que largasse a minha alma se eu quisesse sentir a felicidade de amar.
"Porque os corpos se entendem, mas as almas não"
Sim, eu largarei minha alma. Deixarei-a vagando por aí, infeliz, solitária, perdida.
Largarei-a para que ela se encontre em um nirvana profundo do paraíso das almas. Largarei-a em uma esquina, sem nenhum radar. Deixarei-a em paz, na paz que as almas encontram quando encontram a si mesmas.

Eu deixarei minha alma passear pelo mundo, pelos cantos, pelas casas e pontes, para que eu encontre a felicidade de amar.

Mas peço a ela, a alma que é, que não me abandone. Que vagueie por muito tempo, que se incomunique com outras almas, que se encontre em espelhos do mundo. Mas que volte para o meu corpo. Porque há muito tempo ele já sente a falta desta alma.

terça-feira, abril 07, 2009

Esperando a próxima estação

Não era primavera e não havia flores pelo chão.

Não havia folhas secas para pisarmos fazendo barulho.

Não era primavera e não ficamos deitados na grama.

Não sentimos frio com o sol na cara, não vimos estrelas.

Talvez porque não era primavera.

Não deixei meu cheiro em seu travesseiro, e você não segurou minha mão.

Que estação era, eu não sei, mas não era primavera.

Porque você partiu, porque eu quis ficar.

Podia ser que você nem me notasse, porque não era primavera.

São poucas as estações, são poucos os dias, são poucas as pessoas.

Minhas palavras não foram poucas, mas não ficaram em você.

Caminharei por entre as árvores e vou lembrar daquela estação, mas haverá outra mão segurando a minha mão, sem que eu peça.

Eu bem que quis, eu até sorri.

Mas não pude ficar, porque eu não posso esperar até a primavera.

Um poema antigo, para uma primavera que nunca chegou.

domingo, abril 05, 2009

Meus detalhes

Tire de mim os meus defeitos.
Veja-me como sou sem meus detalhes explícitos.
Finja que sou sem cor, e pinte-me da cor que quiser.
Se quer que eu seja deusa, serei uma deusa.
Se quer que eu seja só o som da minha voz, serei só o som.
Mas não esqueça de se desiludir depois de fingir.
Eu não sou manequim.
Ponha os meus defeitos de volta.
E se mesmo com todos os meus detalhes -da ruga ao ronco,
Você gostar da minha cor,
Então prepare a sua velhice: iremos caminhar juntos.