sexta-feira, março 13, 2009

Meu Pôr-do-sol

Ao longo do dia as perguntas, que a gente acorda se perguntando, vão ficando mais tortas. Mesmo porque as respostas retas começam a me cansar e o que eu quero mesmo são torturas.
Uma vez o Pequeno Príncipe disse que a gente gosta do pôr-do-sol quando estamos tristes.
Eu sempre gostei do pôr-do-sol.
Mesmo no ápice da felicidade.
Se eu pudesse virar minha cadeira e vê-lo de novo eu o faria.
Mas é preciso viver o dia inteiro para poder vê-lo novamente.
A alegria e a tristeza andam tão próximas, como o amor e o ódio. E a gente a esconde no armário, mas ela também é linda, a tristeza.
E o pôr-do-sol não é só triste.
Ele leva todo o dia com ele.
Leva a luz do sol, leva as pessoas embora, leva adeuses e perdões.
Eu bem que queria entender por que são tão tortas as coisas.
Drummond diz que pode ser por conta do Deus canhoto, que escreveu tudo com a mão esquerda. Pode ser mesmo.
Acontece que seriam muitas mãos canhotas para tanto desencontro da vida.
Olhando para a noite é que eu penso na quantidade de corpos andando sem alma pelas ruas e trombando na gente. É muita gente, são muitas almas perdidas, são muitos corpos perdidos. Acho que as mãos de Deus nada têm a ver com as perdas.
Deve ser a falta de poesia.
Porque escrever poesia não é necessariamente sentir.
Eu, às vezes, (tantas) escrevo mas não sinto. A poesia no viver me escapa.
Minha amiga mesmo me diz que eu sou duas pessoas diferentes: a que escreve e a que vive.
E talvez, se todo mundo acordasse e fosse dormir com poesia de verdade,
o mundo seria feito só de pôr-do-sol sem tristeza triste (mas com um pouco de tortura).