sábado, setembro 20, 2008

Palavras não ditas

O dinheiro que encontro no chão, a festa do ano novo, o lugar vazio no carro.
Um dia esperado, um dia improvisado, para qualquer coisa, sem você.
Então criei meu céu nebuloso e tentei não ficar com cara feia.
Ao descobrir que desisti da vida, quando te vi atrás da porta.

- Alô? Mãe, ele me deixou.
- Filha, calma, ele só vai desocupar um lado da cama e reduzir pela metade a conta de telefone.

Cortei com serrote a sua parte.
A cama já não serve mais,tentei que virasse solteiro.
Mas ele não superou, virou lixo.
Vendi o carro, comprei em cigarro e café
Vendi o carro, estou andando de cigarro e de café
Vendi o carro pela metade do preço que você sugeriu.

Desculpa?

Embalei o álbum em papel camurça.

- Que eu faço com as coisas que ele deixou aqui?
- Dá embora.

Sem perceber, copo na mão, aquele vinho que ficamos de abrir qualquer dia desses, televisão chiando, caneta nos dentes, cigarro molhado no café.
Pego o álbum, e aquelas fotos mal escolhidas.
Te ligo.
Na foto do buquê sua tia avó aparece lá atrás dormindo.
São quarenta e cinco, no total.
A capa azul não me agradou, mas você queria mesmo assim.
Mas o som da festa sim, tocou Roberto Carlos, Eu te amo.
Não gosto do seu sorriso da terceira de trás para frente, parece forçado e forjado.
Desculpa.
Não vou poder continuar por hoje,
Preciso tomar banho. Não sei.
Amanhã te vejo?
Aonde?
Pode ser lá na casa dos seus pais,
Aquela décima segunda, que eu apareço segurando a sua mão e olhando pra câmera errada.
Então tá, até amanhã meu...
O telefone já estava mudo.

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