sábado, julho 11, 2009

Superficialidades da vida

Atualmente as coisas se tornaram descartáveis.
Nada de guardar para sempre, nada de comprar para vida toda.
Puro descarte.
O tempo já foi mais estático, mais sólido.
Agora não, esqueça.
Somos a geração da água. A água se adapta, evapora, água some, renasce diferente.
Modernidade líquida, minha gente, modernidade líquida.
Eu, influenciada por essa tendência biruta de que o mundo nada mais é do que um descarte, mandei ver. Descartei coisas, descartei palavras importantes, descartei músicas como faço quando enjôo do meu ipod.
Descartei isso e aquilo e é claro, descartei pessoas. Cabeleireiros, manicures, e todo tipo de ser vivo que não atendesse às expectativas, seguindo o raciocínio de que a oferta é sempre maior que a demanda.
Tchau, adios, bye, dizia eu.
Até que um dia minha tartaruga errou o caminho, e eu a descartei. Mas ela, atrasada como qualquer tartaruga, não sabia nada dessa história de modernidade líquida, e não aceitou.
Falou-me sobre o individualismo das pessoas, o quanto o ser humano de hoje só enxerga o que quer. Reclamou da superficialidade das relações e dá falta de vontade pra perdoar, dar uma chance e entrar em contato com os sentimentos.
É mais fácil descartar mesmo! Gritava ela, o diálogo se esvaziou, os sentimentos não são mais intensos...
E foi então que realizei o mal do século.
A pequena tartaruguinha, com sua sabedoria milenar, não me descartou.
Mostrou-me o quanto é gostoso cultivar uma amizade e lutar por ela.
Obrigada tartaruguinha, por me mostrar que o amor engloba o perdão, o aprender e o lutar. Estava quase corrompida pelo sistema, agora não mais descarto.

2 comentários:

Daniel disse...

Gostei desse texto. Eu fiquei refletindo muito depois que o li; esse é daqueles textos que dá o que pensar.

Rodrigo disse...

Belíssimo texto.... adorei ...quantas analogias perfeitas...quanta sensibilidade...